Imagine-se diante de um rack lotado de fios coloridos, um emaranhado que mais parece obra de arte abstrata do que infraestrutura de telecom. Quem já precisou localizar um único cabo de telefonia ou dados nesse cenário sabe que não é tarefa para os fracos: logo se revela um labirinto de emendas escondidas, etiquetas apagadas ou que já não correspondem à realidade e , em muitos casos, a documentação simplesmente desapareceu no tempo.
Numa construção antiga, os fios passaram por reformas, mudaram de rota, foram reaproveitados; em ambientes corporativos, painéis lotados e cabeamento paralelo tornam qualquer diagnóstico um quebra-cabeça; já em instalações novas, a pressa na entrega costuma custar organização: cabos sem identificação, diferentes padrões de terminação e documentação incompleta.
Nesse cenário cheio de fios que parecem se multiplicar sozinhos, o rastreador de cabos surge como um verdadeiro herói. Com ele, não é preciso sair puxando fio por fio ou perder horas tentando adivinhar para onde cada cabo vai. O equipamento permite identificar rapidamente a origem e o destino de uma linha, mesmo quando ela passa por dutos, paredes ou está escondida em um rack confuso.
Naturalmente, uma ferramenta tão útil e quase indispensável vem acompanhada de um custo — que pode ser bem salgado, dependendo dos recursos disponíveis. Mas aí surge a pergunta: por que não construir o seu próprio rastreador? Ele certamente não terá todas as funções de um modelo comercial, mas com certeza vai te tirar de várias enrascadas.
O transmissor é esse:
Esse circuito usa portas inversoras CMOS, do tipo 40106, para formar dois osciladores que se combinam e produzem um som intermitente. Isto para que o som do rastreador se destaque em relação ao ruído naturalmente presente nos cabeamentos .
O primeiro oscilador é formado pelo capacitor C1 de 1 µF, o resistor R1 de 470 k e um inversor. Esse conjunto gera um sinal quadrado de baixa frequência, que funciona como modulador.
Já o segundo oscilador é feito com o capacitor C2 de 10 nF, o resistor R2 de 120 k . Ele oscila em uma frequência maior , dentro da faixa audível, produzindo o tom principal.
Os sinais desses dois osciladores são misturados através dos resistores R3 e R4, de 1 k cada. O resultado é que o oscilador rápido, que gera o som, é modulado pelo oscilador lento, criando o efeito de tom intermitente, típico de sirenes ou alarmes. O capacitor C3 de 1,5 nF faz o acoplamento do sinal para a saída, bloqueando a componente contínua e permitindo que apenas a parte alternada, ou seja, o áudio, seja transmitida para a garra jacaré de saída. Assim, o circuito inteiro se comporta como um gerador de sirene simples, alimentado com 9 V.
Visto o emissor, agora é a vez do receptor :



Temos agora um amplificador de captação de sinal usando um JFET 2N3819 como estágio de entrada.
O que acontece é o seguinte: a antena (usar fio encapado para proteção de Q1) capta sinais elétricos no ambiente. Esses sinais chegam ao gate do JFET através de C3 (100 pF), que funciona como capacitor de acoplamento, permitindo a passagem da variação de tensão . O resistor R1 (3M3) mantém o gate polarizado em nível adequado, praticamente em alta impedância, o que permite que até sinais muito fracos sejam captados e amplificados.
O sinal amplificado é então acoplado via C4 (100 nF) para a entrada do amplificador PAM8403. O resistor R3 (47k) atua como carga de saída, ajustando o nível de sinal para não saturar o módulo.
A fonte de 4,5 V (três pilhas) é filtrada por C1 (220 µF) e C2 (100 nF), evitando oscilações e ruídos indesejados . O módulo PAM8403, é um amplificador estéreo de baixa potência (mas aqui está sendo usado em mono, apenas em um canal). Esse módulo aumenta bastante a potência do sinal, permitindo que o áudio seja reproduzido no alto-falante de 8 Ω.
Ou seja, o circuito funciona como um sensor/amplificador de campo elétrico: o JFET capta e dá um primeiro ganho, e o PAM8403 leva o sinal para o alto-falante.
Agora é só usar: conecte as garras jacaré no par metálico, pressione o pushbutton e comece a seguir o sinal pelo caminho. O sistema também pode ser usado para rastrear cabos de dados (como cabos de rede), bastando adaptar um conector adequado no lugar das garras jacaré.
E já deixo o aviso antes da dúvida aparecer: nunca conecte em cabos elétricos energizados.