Você sabia que dá para transformar um circuito digital em um amplificador de áudio simples? Um exemplo é o CI CMOS 4069, que normalmente é usado em projetos de lógica digital, mas pode ser adaptado para funcionar como um pré-amplificador ou como um pequeno amplificador para fones de ouvido. É importante entender que ele não foi feito para fornecer potência, então não consegue tocar alto-falantes diretamente. Para isso, seria necessário adicionar transistores ou usar um CI específico para áudio, como o LM386.
O primeiro cuidado é escolher a versão certa do chip: use o 4069 unbuffered (CD4069UB ou HEF4069UB). As versões chamadas buffered não funcionam bem como amplificadores analógicos. Outro ponto essencial é a alimentação: ele funciona bem entre 4 e 12 V, e o valor mais comum é 9 V. Nunca ultrapasse esse limite, porque o CI ou a etapa de saída podem queimar.
O funcionamento é simples: você pega uma das portas inversoras do chip e liga a saída de volta na entrada com um resistor, chamado resistor de realimentação. Esse resistor controla o ganho do sinal, ou seja, o quanto ele será amplificado. Se quiser menos ganho (e menos risco de distorção), basta diminuir esse valor. Se o som começar a “rachar” ou distorcer, você pode reduzir a amplitude do sinal de entrada ou usar um resistor menor.
Dá também para usar duas portas do 4069 em sequência: a primeira amplifica e a segunda serve como buffer, ajudando a reforçar o sinal. Porém, quanto mais portas você usa, mais ruído o circuito pode gerar. Para melhorar o resultado, é bom colocar capacitores de desacoplamento perto do chip, garantindo que a alimentação fique estável.
Neste projeto o 4069 é usado apenas como pré-amplificador, enviando o sinal para um estágio final de potência, feito com transistores .
Segue abaixo a minha sugestão de placa. Note que há um pequeno erro: o resistor de 100k está ligado de forma incorreta. Ele deve ter um terminal conectado ao pino 9 do 4069 e o outro ao negativo do capacitor de 470µF, conforme indicado no diagrama. A correção é simples — basta refazer essa ligação por baixo da placa na posição correta e pronto. Assim que possível, atualizo o desenho da placa com a correção.
Agora, é importante saber as limitações: o 4069 não foi projetado para trabalhar dessa forma, então pode esquentar e não é tão confiável como um amplificador de áudio convencional. Esse tipo de uso do 4069 funciona bem em situações de pré-amplificação ou em circuitos de efeitos sonoros simples. Outra limitação é a fidelidade: o sinal tende a apresentar distorções e a resposta em frequência não é muito ampla, o que restringe seu uso a aplicações experimentais ou criativas. Mesmo com essas limitações, o 4069 pode ser aproveitado em pequenos pré-amplificadores, pedais de guitarra que exploram a distorção do sinal, ou ainda em projetos de baixo custo voltados ao aprendizado de eletrônica aplicada ao áudio.
A maioria dos visitantes deste blog devem conhecer o diodo zener. Um diodo zener é um tipo especial de diodo projetado para operar em inversão (polarização reversa) e manter uma tensão praticamente constante nos seus terminais quando a corrente ultrapassa um certo valor.
Uma característica interessante do zener é que , quando precisar, nunca vai ter o valor que precisa no seu estoque :) .
Isto é facilmente resolvido com o próximo circuito:
Com esse arranjo, se a tensão que você precisa não for um valor padrão ou não estiver disponível no momento, é possível resolver facilmente apenas ajustando o trimpot.
O circuito funciona como se fosse um componente de dois terminais, parecido com um diodo zener.
Quando aplicamos a tensão com a polaridade correta, os dois transistores permanecem desligados até que a tensão no divisor resistivo (formado pelo resistor de 1 kΩ e pelo potenciômetro) seja suficiente para ativar a junção base-emissor do BC327. Um ajuste no trimpot permite variar esta tensão.
Quando a tensão for suficiente , o BC327 começa a conduzir e gera uma corrente em seu coletor. Essa corrente que sai do coletor vai polarizar o resistor de 1k e também a junção base-emissor do transistor BC337. À medida que a base de T2 recebe mais polarização direta, ele conduz cada vez mais, permitindo uma corrente maior entre seu emissor e coletor.
Como o emissor e o coletor do transistor BC337 estão ligados diretamente aos dois terminais do circuito, quando a tensão aumenta a corrente pelo circuito também cresce. Esse aumento de corrente faz com que a tensão nos terminais caia, equilibrando o sistema. Dessa forma, se a tensão aplicada tentar subir, o circuito atua automaticamente para reduzi-la. Olha que interessante : temos um circuito que atua como um diodo zener!
Agora é só calcular o resistor Rz como você faria para um zener comum. Para não exceder a potência dos transistores e evitar aquecimentos, considere como um zener de 500mW.
Quando falamos de ferramentas simples e acessíveis para testes elétricos, as pontas de prova com LED e resistor costumam aparecer como uma das favoritas entre hobbystas e mecânicos. São fáceis de montar, baratas e funcionam bem em muitas situações básicas do dia a dia na oficina ou em projetos caseiros. Mas, apesar de toda essa praticidade, elas escondem algumas desvantagens que merecem atenção — principalmente quando o assunto é eletrônica automotiva moderna.
O grande ponto fraco dessas pontas está justamente na forma como funcionam: o LED só acende se houver uma corrente passando por ele. Isso significa que, ao encostar essa ponta em um circuito, ela retira energia do próprio ponto testado. Essa pequena interferência, que pode passar despercebida em circuitos simples, se torna um problema sério em sistemas mais sensíveis — como sensores automotivos ou redes de comunicação digital (como CAN ou LIN). Nessas situações, até uma leve alteração no comportamento elétrico pode resultar em sinais distorcidos, falhas intermitentes ou até no travamento temporário de um módulo eletrônico.
É aí que entram as pontas de prova automotivas projetadas para não carregar o ponto de teste. Ferramentas desse tipo costumam ser mais caras que pontas simples com LED e resistor, justamente por contarem com circuitos internos mais sofisticados, como buffers de alta impedância ou até isolamento óptico.
Esse tipo de ponta se destaca por ter uma impedância de entrada muito alta. Na prática, isso significa que ela não interfere no circuito testado, não injeta corrente nem altera o comportamento do sinal que está sendo analisado. O resultado? Leituras mais fiéis à realidade, sem o risco de provocar falhas ou distorções nos dados.
Essa característica faz com que sejam especialmente úteis ao testar redes de comunicação digital, ou ao inspecionar sinais vindos de sensores de rotação, temperatura, pressão e afins. Em sistemas tão sensíveis como os de um carro moderno, qualquer influência externa — mesmo mínima — pode bagunçar o diagnóstico e até comprometer a segurança.
Além disso, por não alimentarem o ponto com energia, essas pontas ajudam a evitar problemas como o acionamento involuntário de relés, injetores ou outros atuadores. Em um teste prático, isso pode significar a diferença entre um diagnóstico seguro e um erro caro.
Para quem trabalha apenas com sistemas básicos ou faz testes ocasionais, o investimento em pontas de prova profissionais pode não ser interessante. Mas então surge a pergunta: por que não apostar em uma solução DIY?
Criar sua própria ponta de prova pode ser uma alternativa viável, prática e econômica. Claro, ela não vai oferecer todos os recursos de um equipamento profissional, como impedância ultra-alta ou isolamento óptico. Mas com um pouco de cuidado no projeto, já é possível montar algo funcional e seguro para testes básicos do dia a dia — principalmente em sistemas menos sensíveis, como iluminação automotiva, fusíveis ou sinais de alimentação simples.
Além da economia, montar sua própria ferramenta também oferece outro benefício: o aprendizado. Ao projetar e construir uma ponta de prova DIY, você entende melhor como ela funciona e quais são os seus limites.
Veja a ideia:
O uso será como qualquer outra ponteira de teste : Primeiro, conecte a garra jacaré preta (terra) em uma parte metálica aterrada do veículo, como o terminal negativo da bateria ou o bloco do motor. Em seguida, prenda a garra vermelha no positivo da bateria para alimentar a ponteira. Com tudo conectado, ao tocar a ponta de prova no ponto que deseja testar, um dos LEDs irá acender, indicando a polaridade. Se o LED verde (positivo) acender, isso indica que há tensão positiva em relação ao terra naquele ponto. Já se o LED vermelho (negativo) acender, significa que há um potencial negativo. Caso nenhum LED se ilumine, é sinal de que não há alimentação elétrica ou o componente testado está isolado do circuito.
Dois pontos importantes:
Não utilizar tensão superior a 18V (essa é a tensão máx. do ci 4001 usado no circuito)
Não inverter a polaridade nas garras jacaré quando for conectar no sistema elétrico do veículo . Isto também danificará o circuito integrado .
Pensando melhor agora, um diodo a mais no circuito resolveria este segundo inconveniente. Acho que estou ficando preguiçoso...
Você já parou pra pensar como é o dia a dia de uma pessoa cega? Imagina só acordar de manhã, querer tomar um café e ter que tatear tudo pra achar a xícara — torcendo pra não derrubar o açúcar ou pegar sal por engano. E quando conseguir achar a xícara ainda vai precisar controlar o nível do líquido , o que pode causar transbordamentos acidentais. Para ajudar a tornar essa tarefa mais fácil e segura, a ideia é usar alertas sonoros. O sistema que eu vou mostrar , vai emitir um som quando o nível do líquido atingir um ponto desejado, avisando a pessoa para que ela pare de colocar o líquido no recipiente. Com isso, o objetivo é garantir mais autonomia e evitar acidentes, permitindo que a pessoa realize essa atividade de forma mais independente e segura.
O circuito é simples, barato e tão fácil de montar que até quem não tem experiência consegue fazer — e ainda pode presentear alguém que realmente precise.
Funciona da seguinte maneira: quando o dispositivo estiver pendurado na borda do recipiente e o recipiente estiver vazio, ele não fará nada. Ao adicionar o líquido, ele emitirá um alerta intermitente quando o nível atingir um certo ponto. Quando o líquido estiver perto da borda, o alerta se tornará contínuo.
A maior dificuldade é deixar o circuito o mais leve e compacto possível, de modo que possa ser facilmente pendurado — como na borda de uma xícara, por exemplo. Para isso, é essencial trabalhar com a menor tensão possível, evitando adicionar peso desnecessário com mais pilhas.
No entanto, surge um desafio: com a topologia escolhida, a queda de tensão entre a base e o emissor de um transistor de silício (em torno de 0,6V) é relativamente alta e compromete o funcionamento intermitente do buzzer. Para contornar isso, temos duas opções: usar um transistor de germânio, que tem uma queda base-emissor muito menor (cerca de 0,2V), ou adotar um transistor NPN comum, mas elevando a tensão de alimentação para pelo menos 4,5V — o que exigiria três pilhas.
Como tenho vários transistores de Germânio por aqui, preferi a primeira opção.
Os sensores são fabricados com hastes metálicas de aço inoxidável, rígidas e dobradas de forma a se fixarem na borda do recipiente. Para evitar interferências, especialmente em recipientes metálicos, é recomendada a utilização de canudos plásticos como isolantes nas áreas dobradas. Usar inox é essencial, pois se trata de um material seguro para aplicações relacionadas à saúde humana.
Um elevador didático é uma ótima maneira de aprender, na prática, como funcionam sistemas de automação e controle. Ele imita um elevador real, mas em escala menor, com muito menos recursos e com foco no aprendizado, sendo usado principalmente em cursos técnicos e de engenharia. Com ele, dá pra entender melhor como sensores, motores, botões e controladores trabalham juntos para fazer o elevador funcionar de forma segura e eficiente. Além disso, esse tipo de projeto ajuda a unir teoria e prática, permitindo que os alunos testem suas ideias, façam ajustes e vejam o resultado em tempo real. É uma ferramenta muito útil pra quem quer se aprofundar no mundo da automação e entender de verdade como tudo acontece por trás das máquinas.
A proposta é montar um sistema que imite o funcionamento de um elevador real, com botões para chamar, sensores que identificam a posição, controle do motor e sinais visuais para indicar o que está acontecendo. Pra deixar o projeto mais simples , a parte de abrir e fechar portas não foi incluída, assim como os displays em cada andar.
E o diferencial mais interessante do projeto: ele funciona sem precisar de microcontroladores, como Arduino ou PIC. Isso significa que toda a lógica de controle foi desenvolvida com componentes discretos, como relés, comparadores, flip-flops e circuitos de lógica com diodos. Essa abordagem, além de eliminar a necessidade de programação, permite compreender melhor como os sistemas automáticos eram projetados antigamente, antes da chegada dos fantásticos microcontroladores e controladores programáveis.
A estrutura do elevador pode ser feita em MDF, um material muito utilizado em protótipos e projetos didáticos por ser fácil de cortar, leve, resistente o suficiente para suportar a movimentação do sistema e dar bom acabamento. Para o meu protótipo, usei o modelo da Usina Info. A estrutura já vem toda pronta, feita em MDF, com quatro andares e espaço certinho pra montar motor, sensores, botões e tudo mais. Isso economiza um bom tempo na hora de montar e já vem com um acabamento legal, além de facilitar bastante pra quem quer focar na parte elétrica e lógica do projeto, sem se preocupar tanto com a parte mecânica ( não ganhei nada pela propaganda).
Pra detectar a posição do elevador, foi usado um reed switch em cada andar. Ele é acionado por um ímã preso na cabine, funcionando como um sensor simples e confiável.
O controle do motor poderia ser feito de várias formas, mas achei mais simples e barato utilizar uma mini ponte H:
Por falar em motor, o usado foi aquele amarelinho, muito comum e que já vem com uma certa redução.
O circuito utiliza dois CD40175 e um CD4063. É um sistema simples, mas eficiente, para comparar dois valores binários. O uso dos dois CD40175 permite que você tenha dois valores independentes para serem comparados, e o CD4063 fornece uma maneira direta de saber qual deles é maior, menor ou se ambos são iguais.
CD40175 é um circuito integrado que contém quatro flip-flops do tipo D, permitindo o armazenamento e deslocamento de 4 bits de dados. Em aplicações como esta, dois CD40175 atuam como registradores de 4 bits, armazenando os dados correspondentes aos botões pressionados. Esses dados são carregados nos registradores por meio de um sinal de clock, que insere os bits no chip. As saídas dos registradores são conectadas a diodos, os quais implementam a lógica de controle necessária para a posterior comparação dos valores.
A comparação entre os dois valores armazenados é realizada pelo CD4063, um comparador de magnitude. Esse componente compara os dois números binários fornecidos em suas entradas e determina qual deles é maior, menor ou se ambos são iguais. Para isso, o CD4063 possui três saídas que indicam o resultado da comparação. As saídas que indicam se o primeiro número é maior ou menor são conectadas a um módulo de controle de motor, que comanda o sentido de rotação do motor — fazendo a cabine se mover para cima ou para baixo.
Clique na imagem para ampliar
Vamos à sugestão de placa:
Se for usar meu layout, trate de conferir antes , pois não tenho ninguém pra revisar e pode conter algum erro.
Para indicar visualmente em qual andar a cabine se encontra, pode usar o circuito abaixo:
Veja um vídeo do protótipo em funcionamento :
Acredito que nem precisaria dizer , mas:
⚠️ Atenção: Este Projeto não deve ser usado para transporte de pessoas ⚠️
Só reforçando que elevadores construídos para fins didáticos – como projetos escolares ou demonstrações técnicas – não são apropriados para o transporte de pessoas.
O uso indevido desses equipamentos pode trazer riscos sérios e, se acontecer algum acidente, pode dar dor de cabeça jurídica — daquelas que nem aspirina resolve. E tenho dito.
Os diodos Zener são componentes amplamente utilizados em circuitos eletrônicos, especialmente em aplicações de regulação de tensão, proteção contra surtos e referência de tensão. Sua principal característica é a capacidade de conduzir corrente no sentido reverso quando a tensão atinge um valor específico — conhecido como tensão Zener.
Identificar corretamente a tensão de operação de um diodo Zener, ou verificar seu bom funcionamento, nem sempre é uma tarefa simples. Isso é particularmente verdade quando os componentes estão soltos na bancada, com marcações apagadas ou suspeitas de defeito. É nesse contexto que um circuito provador de diodos Zener se torna extremamente útil. E é isto é o que vou te mostrar a seguir.
É importante dizer que este circuito não é um testador completo, capaz de identificar todas as características de um diodo Zener. Sua função principal é indicar a tensão Zener do componente, o que por si só já é bastante útil. Trata-se de um projeto simples e acessível, ideal para estudantes, hobbystas e técnicos que buscam uma ferramenta prática e eficiente.
O funcionamento do circuito é bastante direto: aplica-se uma tensão superior à tensão nominal do diodo Zener e mede-se a tensão em seus terminais. Para isso, utiliza-se uma fonte de corrente contínua (DC), um resistor em série para limitar a corrente e um voltímetro conectado em paralelo ao diodo. Quando o Zener está em boas condições, ele estabiliza a tensão em seus terminais no valor esperado — por exemplo, 5,1V em um Zener de 5V1 — mesmo com uma alimentação de 30V. Caso o componente esteja com defeito ou apresente alterações em suas características, o comportamento será anormal: o voltímetro poderá indicar a tensão total da fonte ( diodo aberto) ou zero, sugerindo um curto-circuito no componente.
Para possibilitar o teste de uma ampla variedade de diodos Zener, mantendo uma fonte de alimentação simples, foi incorporado ao circuito um regulador step-up, que eleva a tensão da bateria para cerca de 30V.
O ajuste do circuito é bastante simples. Com o sistema ligado, gire o trimpot do regulador até que o voltímetro marque 30V. Em seguida, conecte um diodo Zener de valor conhecido (como 12V, por exemplo) e verifique se essa é a tensão indicada no display. Caso o diodo seja conectado invertido, a leitura será de aproximadamente 0,7V. Esse comportamento é útil para identificar a polaridade do componente, especialmente quando a faixa indicativa estiver apagada, dificultando a distinção entre ânodo e cátodo.
Boa sorte nos testes e lembre-se: na dúvida, meça e confira . E se ainda der 0V… talvez seja hora de dar adeus ao velho Zener.
E pronto! Com esse circuito simples, porém valente, você já pode testar seus diodos Zener sem medo de ser feliz.
Montar um radinho FM " de verdade" pode parecer uma tarefa simples à primeira vista, especialmente com a quantidade de esquemas disponíveis na internet e kits prontos no mercado. No entanto, quando se decide fazer isso do zero ou sem um conhecimento mais técnico, as dificuldades começam a aparecer. A primeira grande barreira está no fato de que o rádio FM opera em frequências muito altas, entre 88 e 108 MHz. Nessa faixa, qualquer pequeno erro nos valores dos componentes ou até mesmo no jeito como o circuito é montado fisicamente pode afetar drasticamente o funcionamento. Isso acontece porque, em frequências tão altas, fios, trilhas na placa ou até mesmo o posicionamento dos componentes começam a atuar como indutores ou capacitores parasitas. É o tipo de circuito onde até o modo como você segura a placa pode interferir.
Outro ponto desafiador é a sensibilidade da sintonia. Para captar uma estação, é necessário que o circuito esteja muito bem ajustado. Muitas vezes, isso envolve a construção ou aquisição de um circuito oscilador com bobinas bem calibradas e capacitores com tolerância muito baixa. Se você tenta fazer isso com peças improvisadas, como enrolar fios em um bastão de ferrite ou usar capacitores cerâmicos comuns, a chance de instabilidade ou de nem conseguir sintonizar nada é grande. Além disso, como osciladores são extremamente sensíveis à temperatura, pode acontecer de você sintonizar a estação e, depois de alguns minutos, ela desaparecer por conta da variação térmica dos componentes.
Mesmo que você passe da etapa de sintonização, surge outra dificuldade: extrair o som da onda FM, que é modulada em frequência e não em amplitude. Isso exige circuitos mais complexos de demodulação, como os detectores de quadratura ou discriminadores de frequência. Esses circuitos não são simples de montar nem de ajustar. Além disso, como a maioria das pessoas não tem acesso fácil a instrumentos como osciloscópios de alta frequência ou frequencímetros, fazer o ajuste “no escuro” vira um jogo de tentativa e erro.
Em paralelo a todas essas questões técnicas, ainda existe a dificuldade prática de encontrar componentes apropriados. Bobinas ajustáveis, capacitores com valores exatos, diodos varicap, entre outros, não são tão comuns em lojas físicas, especialmente fora dos grandes centros. Comprar pela internet é uma opção, mas muitas vezes leva tempo e exige um conhecimento prévio para escolher o que realmente serve.
Para contornar esses desafios, muitos recorrem a circuitos integrados específicos que já vêm com praticamente todo o receptor dentro. O uso de circuitos integrados específicos para FM, como o famoso TDA7000, o TEA5711 ou o mais recente SI4825A, representa uma grande vantagem para quem deseja montar um receptor de rádio com eficiência, simplicidade e confiabilidade. Esses CIs foram desenvolvidos justamente para concentrar em um único componente todas as funções críticas de um receptor FM, como o oscilador local, o misturador, o filtro, o amplificador intermediário e o demodulador. Isso elimina a necessidade de montar cada uma dessas etapas com componentes discretos, o que exigiria um alto nível de conhecimento técnico, paciência para ajustes finos e equipamentos de medição sofisticados. Ao utilizar um circuito integrado específico, o projeto se torna muito mais compacto e estável, além de exigir menos peças, o que reduz o custo e o tempo de montagem. Outra vantagem é a maior imunidade a interferências externas e variações térmicas, já que todos os blocos do circuito estão encapsulados dentro de um único chip e foram projetados para funcionar em perfeita harmonia. Isso resulta em uma recepção mais limpa, estável e com menos ruídos. Além disso, esses CIs geralmente vêm com documentação técnica bem completa, incluindo exemplos de circuitos e sugestões de layout, o que facilita ainda mais a vida do projetista. Para quem está começando, ou mesmo para quem já tem experiência mas quer evitar as dores de cabeça dos ajustes manuais e da sensibilidade dos circuitos de RF, usar um circuito integrado específico é, sem dúvida, a escolha mais prática e inteligente.
O SI4825A10:
O SI4825A10 é um circuito integrado desenvolvido pela Silicon Labs, voltado para recepção de rádio AM, FM e também de ondas curtas (SW), oferecendo uma solução completa e moderna para projetos de rádios portáteis. Uma das grandes vantagens do SI4825A é que ele integra praticamente tudo o que se precisa para montar um rádio completo, exigindo poucos componentes externos. Ele conta com sintonizador, oscilador local, controle automático de ganho, demodulador e saída de áudio, tudo dentro de um único chip, reduzindo drasticamente a complexidade do projeto, o número de peças na placa e, consequentemente, o consumo de energia — importante em rádios portáteis alimentados por bateria.
Veja o seu aspecto físico, sua pinagem e diagrama em blocos:
Embora o SI4825A10 seja um circuito integrado moderno e eficiente, ele possui algumas limitações que podem restringir seu uso em determinados contextos. A principal, especialmente no caso deste blog voltado principalmente a iniciantes, é o tipo de encapsulamento do chip, que pode representar um desafio na hora da soldagem para quem ainda não tem muita experiência com montagem de circuitos.
Por ser muito pequeno, seu manuseio, identificação e posicionamento corretos exigem bastante paciência e o uso de ferramentas adequadas, como lupa, pinça de precisão e um ferro de solda com ponta fina.
Caso não se sinta seguro para soldar o componente diretamente na placa, é possível utilizar fios conectados aos terminais ou, preferencialmente, um adaptador SOIC para DIP, que facilita absurdamente o manuseio e testes.
Superado este desafio, verá a extrema simplicidade do circuito.
A sintonia é ajustada por meio de um potenciômetro, o que considero bem interessante. O cristal utilizado é o modelo comum de 32.768 kHz, fácil de encontrar no mercado.
O som, embora monofônico, apresenta uma qualidade excelente. Falando em som, este circuito é compatível com qualquer amplificador. No entanto, para um sistema autônomo (standalone), será necessário utilizar um amplificador que opere com 3V. A seguir, duas opções de amplificação:
Veja abaixo uma demonstração do circuito funcionando. No vídeo usei um módulo amplificador PAM8403 que funcionou muito bem.
Em resumo, montar um radinho FM é um projeto fascinante, mas repleto de armadilhas técnicas. Quando finalmente funciona, ouvir uma música ou até mesmo uma chiadeira que muda com a sintonia é uma vitória que traz uma satisfação enorme. Afinal, você não só construiu um rádio, mas venceu um pequeno duelo com a física invisível das ondas eletromagnéticas.